terça-feira, 26 de julho de 2011

De um álbum de sonhos...



 É curioso, eu não a conheço...

            O leitor – ou leitora, sempre prezada – não acreditará totalmente, piamente, se eu lhes disser e lhes contar as coisas que tenho para dizer. E por isto, afastado e prezado leitor, tudo que lhes contar do que me aconteceu, por mais que capriche na escolha das palavras, por mais que tente sensificar o que de si já é chocante, será só mais uma história contada, e pior, a história contada de um outro... se você for um dos onívoros prosadores que se reúnem no recôncavo serrano aos finais de semana para dar uma chance a Deus, não dirá que estou mentindo, mas dirá, por amizade, que estou poetizando.
            Nada diria se esse fato tivesse ocorrido aqui, na cidade amiga de Armazém, mas, o fato é que tudo se deu enquanto eu estava sob o efeito dos gozosos ares do recôncavo da serra furada, lugar de mistérios indeléveis e histórias que enchem de inibição os menos iniciados.
          Por isso, amigos, ofereço-lhes de bom grado esta gorda face aos tabefes daqueles que não acreditarem no relato que seguirá, relato que será contado por este que dedilha com dificuldades lembrando do acontecido naquela noite, tão certa, tão boa, tão ébria...
            Tudo se deu na madrugada do dia vinte e três para o dia vinte e quatro, foi sim... foi bem no meio dessa gloriosa noite onde amigos-irmãos fincaram vigília esperando para ver mais uma vez os dedos do Sol pintarem toda essa terra abençoada. Foi no meio dessa noite que eu acordei sonhando com uma moça... está certo, eu havia bebido algumas coisinhas, um monte de coisinhas, acordei esfregando os olhos como quem tenta sumir com a fanfarra que, sempre festiva, embagulhava meu pobre e dolorido crânio. Mesmo com todo o desterro cerebral, eu não tinha como negar que a podia ver nitidamente, ali, na minha frente, na graça de seus vinte e poucos anos.
            Era uma linda moça de cabelos castanhos – presos, se não me engano, por uma fita laranja – nariz reto, correto, os olhos de uma água lisa, pura, um riso largo, de lábios grossos que pareciam refletir a luz saída do fogão a lenha, riso engraçado e justo...
            Depois, sem mais, pareceu-me que lançou o olhar por sobre toda uma vida, fez um instante de seriedade, a beleza encarando a vida sem medo, com dignidade.
            Assim como quem espera, caminhou devagar até a janela mais próxima, parecia estar ouvindo música quando parou para olhar os campos e montanhas que pintados de Lua faziam uma bonita noite; virou-se para dentro da casa e viu esse moço a lhe observar sem nada entender, e com uma lágrima mostrou a ele o pouco, o nada que ele sabe das coisas da vida, e mostrou com um sorriso que compreendia daquele moço o jeito dele de amar - sério, quieto, devagar.
            Se pudesse eu lhe traria maçãs-do-amor e pitangas bem doces, seus olhos brilhariam de prazer. Eu lhe ensinaria a ouvir o riacho que corre descendo a serra e passa cantando rente as amoreiras, afinal, dessas coisas eu sei, também lhe ensinaria que apesar dessa nossa mata luxuriante ainda existem sim bichos tristes, o tatu, a cutia, o tateto... e as nuvens, mostraria que as nuvens fazem belos desenhos quando da viração dos ventos... mas deixem para lá essas coisas que já não poderei mais fazer.
            Só peço, prezada moça que durante esse sonho me sorriu, brincou e me ensinou... que onde você estiver, por favor... não fique com pena desse moço que nunca a teve.

P.S. Amigos prosadores, perdoem este que apenas fez beber demais.

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